Disputa chinesa no país prenuncia reorganização do ecossistema digital
Há uma guerra silenciosa entre a nova geração de aplicativos globais de internet pelo Brasil. Um exemplo disso é a disputa entre os apps TiKTok e Kwai pelo mercado brasileiro. Ambos são aplicativos chineses que possuem bases monumentais de usuários naquele país e deram passos bem-sucedidos para expansão global.
Até porque tanto em tecnologia quanto no modelo que utilizam dão a impressão que estão um passo à frente em “modernidade” quando comparados com as plataformas ocidentais. Ao ponto de que várias empresas de tecnologia do ocidente já começam a copiar as “features” desses aplicativos para não ficarem para trás.
O TikTok já está se tornando um nome mais conhecido entre leitores de jornal e analistas. No último sábado a Folha trouxe uma boa matéria sobre o app. Trata-se de um app de vídeos curtos, que vem com poderosas ferramentas de seleção de conteúdo. Mais do que isso, o app é construído em torno de uma inteligência artificial que analisa os gostos dos usuários a partir de dados e micromovimentos. Com base nesses dados, entrega automaticamente para os usuários aquilo que ele quer ver (e que talvez nem sabia que queria!). O aplicativo é muito popular entre jovens, especialmente entre 12 e 17 anos. A empresa que faz o aplicativo —chamada Bytedance— é hoje a startup mais bem-sucedida do planeta. Está avaliada em nada menos do que 75 bilhões de dólares.
O TikTok vinha avançando no Brasil até encontrar um rival à sua altura, o Kwai.
Ele é menos conhecido entre os leitores de jornal. No entanto, tem avançado rapidamente no mercado brasileiro.
Trata-se também de um aplicativo de vídeos curtos com uma boa ferramenta de edição. No entanto, o Kwai tem uma estratégia diferente.
Ele é uma reação à cultura das celebridades. Em vez de fomentar estrelas que falam para milhões de pessoas, o Kwai quer dar voz para toda e qualquer pessoa, rica ou pobre, famosa ou anônima. E, com isso, diminuir a distância entre influenciadores (que capturam toda a atenção) e usuários “normais”.
A estratégia funcionou na China e está funcionando também no Brasil. Tem muito conteúdo de regiões pobres das cidades brasileiras, conteúdo religioso e, é claro, a chegada de celebridades. Como a dançarina Mirela Janis, que já assegurou 1,4 milhão de seguidores na nova plataforma.
Entre 4 e 7 de setembro o Kwai foi o aplicativo mais baixado no Brasil na loja do Google. A empresa acabou de fazer uma festa para celebrar a chegada a 3 milhões de usuários diários ativos na plataforma e uma curva de crescimento vigorosa.
Em resposta a Bytedance que faz o TikTok aumentou o ranking de importância do Brasil, colocando o país como prioritário para sua expansão.
Essa briga prenuncia um processo de reorganização do ecossistema digital no país, seguindo uma tendência global.
Se antes a internet era essencialmente ocidental, começa a ficar cada vez mais multipolar, com a inovação das empresas asiáticas.
Saber navegar com sabedoria nesse novo ecossistema é imperativo para empresas, governos e para promover a inovação em qualquer país, em especial no Brasil.
READER
Já era inovação majoritariamente vinda do Vale do Silício
Já é inovação vinda cada vez mais da Ásia (sobretudo China, Coreia e Índia)
Já vem desafio de navegar nesse cenário para gerar inovação no Brasil